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dos demagogos. Caluniam os ricos uns após os outros e os obrigam a fazer
coalizões, pois o temor diante do perigo comum tem o efeito de reconciliar os
maiores inimigos. Em seguida, amotinam publicamente o povo contra a
coalizão, como se vê quase em toda parte.
Foi com tais maldades que forçaram em Cós os nobres a conspirar e
destruir a democracia. Em Rodes, distribuíram aos soldados todo o dinheiro
proveniente dos impostos e impediram que os capitães das galeras
recebessem o que lhes era devido, acusando-os de vários delitos. Para evitar,
então, a punição, os acusados foram obrigados a conspirar contra a democracia
e a derrubaram. A democracia de Heracléia também deveu a ruína a seus
demagogos. Depois de terem enfraquecido o Estado com a partida das
colônias, tiveram a temeridade de arruinar e expulsar os nobres. Estes, tendo-se
reunido, recuperaram forças e destruíram o poder do povo. Em Megara, o
mesmo resultado: os demagogos baniram a maioria dos nobres, a fim de obter
dinheiro pelo confisco de seus bens; os banidos viram-se em número bastante
elevado para fazer-lhes guerra; venceram o povo, voltaram à cidade e
estabeleceram a oligarquia. De modo semelhante, Trasímaco arruinou a
democracia de Cumas.
Se prestarmos atenção, constataremos que as mesmas revoluções
aconteceram em todas as outras partes da mesma maneira. Para bajular o
povo, ora se apertam os ricos, quer submetendo os bens de uns a leis agrárias
e a novas partilhas, quer empregando as rendas dos outros no pagamento dos
magistrados, ou cumulando-os de impostos; ora os caluniam para ter ocasião
de acusá-los e confiscá-los.
Antigamente, quando o mesmo personagem era demagogo e general de
exército, as democracias não deixavam de se transformar em Estados
despóticos. Com toda certeza, os antigos tiranos originaram-se dos
demagogos.
Isso já não acontece com tanta freqüência quanto antigamente, pois
então, não estando ainda exercitados comumente na arte de bem falar, as
armas eram o único meio de se obter poder. Hoje que a eloqüência foi levada
ao mais alto grau de perfeição e goza da maior estima, são os oradores que
governam o povo. Mas como não têm nenhum conhecimento da arte, não ousam
tentar nada contra o Estado, ou, se o fizeram em algum lugar, as tentativas foram
rapidamente reprimidas. Assim, as usurpações da suprema autoridade eram
mais freqüentes no passado do que no presente, porque se davam a alguns
cidadãos magistraturas de alta importância, como em Mileto a Pritania, e se
submetiam à decisão deles os maiores interesses. Aliás, as cidades estavam
longe de ser tão grandes, já que o povo preferia morar no campo, ocupando-se
com seus trabalhos rústicos. Portanto, se esses magistrados eram guerreiros,
apossavam-se do governo. Seu principal recurso era a confiança que obtinham
do povo, pelo ódio que demonstravam contra os ricos. Foi assim que Pisístrato
obteve a tirania de Atenas; querelando contra os habitantes da planície;
Teagênio, a de Megara, mandando matar o gado dos proprietários, quando o
encontrou passando à margem do rio; e Dionísio, a de Siracusa, acusando de
traição Dafne e os grandes, artifícios que eram tidos como ímpetos de
patriotismo e davam popularidade.
Causas das Revoluções na Oligarquia
Quanto às oligarquias, há duas causas manifestas de revolução:
A primeira, da parte do povo, quando os homens do governo se mostram
injustos para com a multidão; então, o primeiro que aparece basta para
insurgi-Ia, sobretudo quando é um membro do Senado que se oferece como
chefe, como Ligdamis de Naxos, que depois usurpou a soberania.
A segunda, da parte dos ricos, em conseqüência da existência de vários
grupos entre eles; a sedição parte dos que são apenas particulares, sendo
freqüentemente muito poucos os outros ricos que governam. Foi o que
aconteceu em Marselha, na Istria, em Heracléia e em outras Cidades, onde os
que não participavam do governo não pararam de conspirar até que tivessem
mudado as máximas e os costumes. Uma das regras quase gerais era que o
pai e os filhos, ou o filho mais velho e o mais moço, não podiam ser magistrados
ao mesmo tempo. Pelo menos, este costume era observado em muitos lugares,
mesmo naqueles em que a oligarquia era a mais organizada politicamente. Nas
cidades que acabamos de citar, foi preciso admitir em primeiro lugar os irmãos
mais velhos e depois os mais jovens. Disto resultou que na Istria a oligarquia
passou a ser uma democracia; que em Heracléia, de um número menor de
magistrados, se passou a ter seiscentos; que em Cnido, ela se transformou
devido à dissensão entre os nobres, em razão do pequeno número de pessoas
admissíveis no governo graças à exclusão mencionada do filho pelo pai e dos
mais moços pelo mais velho. O povo, aproveitando-se de sua discórdia e
tomando um dentre eles como chefe, atacou os outros e os derrotou. Com efeito,
toda sociedade não deixa nunca de se enfraquecer quando é dilacerada pelas
facções. Mais antigamente, em Eritréia, durante a oligarquia dos Basilidas, que,
no entanto, governavam bem, o povo, indignado por estar sob o jugo de um
punhado de pessoas, mudou essa forma de governo.
As oligarquias também se destroem por si mesmas, quando são roídas pela
demagogia de seu próprio chefe. Uma primeira maneira de as coisas
acontecerem é a adulação de seus colegas por algum membro de um Senado
oligárquico e, portanto, pouco numeroso (assim agiram Cáricles em Atenas, no
tempo dos Trinta tiranos, e Fínicos na época dos Quatrocentos). Outro modo de
agir é garantir ao povo a complacência dos magistrados, como em Larissa,
onde os guardiães do Estado bajulavam até a populaça, porque ela dominava
as eleições. É o que sempre ocorre em toda oligarquia em que as designações
não se fazem por cooptação, mas sim pelo povo ou pelo exército, em razão da
importância da renda ou da classe de que se é membro. A este respeito, temos
o exemplo de Ábido. O mesmo ocorre nos Estados em que o poder judiciário [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ]
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